DO “CHOQUE DE GESTÃO” AO CHOQUE NORMATIVO REACIONÁRIO” NA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (2003-2020): QUANDO O NOVO NÃO NASCE E O VELHO NÃO MORRE

Nome: NAARA DE LIMA CAMPOS
Tipo: Tese de doutorado
Data de publicação: 29/03/2021
Orientador:

Nomeordem crescente Papel
MARIA LUCIA TEIXEIRA GARCIA Orientador
JEANE ANDRÉIA FERRAZ SILVA Co-orientador

Banca:

Nomeordem crescente Papel
MARIA LUIZA AMARAL RIZZOTTI Examinador Externo
MARIA LUCIA TEIXEIRA GARCIA Orientador
JEANE ANDRÉIA FERRAZ SILVA Coorientador
IZILDO CORRÊA LEITE Examinador Externo
FABIOLA XAVIER LEAL Examinador Interno

Páginas

Resumo: A tese analisa os elementos de inflexão na concepção da Política Nacional de Assistência Social entre os anos de 2003 e 2020 - governos Lula, Dilma, Temer e Bolsonaro -, evidenciando se houve e quais foram as continuidades e rupturas nessa política. Nossa hipótese é que o Sistema Único de Assistência Social, em sua implementação no período em tela, constituiu um conjunto de leis, decretos, normas, portarias e resoluções que, ao serem alteradas ao longo dos últimos 17 anos, tornou a concepção da Política Nacional de Assistência Social cada vez mais focalizada na pobreza e na extrema pobreza. Isso como uma estratégia técnica, política e gerencialista do Estado que, na aparência atenderia às necessidades básicas da classe trabalhadora, e contraditoriamente, em essência, obscurantiza a reprodução de todas as desigualdades, além de subjetificá-las e transferi-las aos indivíduos de modo a responsabilizá-los. Este movimento pode ser caracterizado como uma continuidade da concepção posta nos anos 2000. A tese aqui defendida é que a Política de Assistência Social implementada nos governos de Lula e Dilma foi parcialmente alterada pelos governos Temer e Bolsonaro, com a redefinição de ações, projetos, programas e regulações, ao passo que estes últimos utilizam parte do arcabouço conceitual e ideológico de gestão construídos nos governos petistas de Lula e Dilma, apresentando continuidades e rupturas com estes. Isso se expressa no que a partir da presente pesquisa chamamos de “choque normativo reacionário”. Nessa perspectiva exploramos as categorias “Estado”, “questão social” e “política social”, à luz do método crítico dialético. Em termos procedimentais, realizamos pesquisa documental recorrendo aos 1840 atos normativos relativos à regulamentação específica da proteção socioassistencial no Brasil entre 2003 e setembro de 2020. Na análise dos dados utilizamos a análise de conteúdo do tipo categorial e temática, identificando a relação entre a quantidade e conteúdo dos atos normativos do Sistema Único de Assistência Social promulgados por cada governo em análise. Assim como também se analisam os fundamentos econômicos, políticos e ideológicos que subjazem e embasam a construção da política de assistência social em curso; e as inflexões, continuidades e rupturas na política de assistência social durante os governos Lula, Dilma, Temer e Bolsonaro. Os resultados apontam para a identificação de dois ciclos na Política de Assistência Social: um que se inicia em 2003 e se estendeu até 2014, coincidindo com os primeiros movimentos de construção e consolidação do Sistema Único de Assistência Social ainda no governo Lula; e um segundo que começou em 2015 e se estende até o presente momento, período marcado por crise econômica e política que se desenrolou no país após 2014. O primeiro período abrange o denominado “choque de gestão”, e aconteceu de modo espaçado no tempo e com a participação de muitos atores públicos. Já o segundo ciclo, denominado por nós de “choque normativo reacionário”, conferiu novos elementos à arquitetura institucional da Assistência Social. Ele se refere ao conjunto de atos normativos promulgados, sobretudo no período pós-golpe jurídico parlamentar, e que ensejou inúmeras reformas políticas, econômicas e sociais com graves impactos para a classe trabalhadora. Ele está ocorrendo de modo apressado no tempo, com pouca ou nenhuma oportunidade de discussão democrática entre os atores que envolvem a política pública, além de representar inúmeros retrocessos e desmontes àquilo que já havia sido considerado como alcance, avanço e conquista no âmbito do Sistema Único de Assistência Social. Os atos normativos dos governos Temer e Bolsonaro trataram de promover uma ruptura com o processo de consolidação e expansão do Sistema Único de Assistência Social, por meio do incremento da precarização do trabalho técnico e dos serviços ofertados. A Assistência Social perde prioridade no âmbito da gestão estatal, e isso pode ser notado a partir da desestruturação da organização administrativa do antigo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, criado em 2004, transformado em Ministério da Cidadania, a partir de uma junção com as antigas pastas de Esporte e de Cultura. Concluímos que no interstício dos governos Lula, Dilma, Temer e Bolsonaro ocorre rupturas com a lógica do Sistema Único de Assistência Social, assim como há alguns elementos de continuidade. As continuidades e rupturas seguem uma tendência de retrocessos da concepção do direito socioassistencial público e estatal, levada a cabo por meio de manobras normativas e legislativas que comprometem, inclusive, as conquistas e avanços legais e institucionais do Estado democrático burguês no Brasil, inscritos na Constituição Federal de 1988.

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