O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E O PROCESSO DE ASCENSÃO DO NEOFASCISMO NO BRASIL: A EMERGÊNCIA DA DEMOCRACIA JUDICIALIZADA

Nome: BRUNO ALVES DE SOUZA TOLEDO

Data de publicação: 30/10/2023

Banca:

Nomeordem decrescente Papel
ANA TARGINA RODRIGUES FERRAZ Presidente
BRUNELA VIEIRA DE VINCENZI Examinador Interno
GILSILENE PASSON PICORETTI FRANCISCHETTO Examinador Externo
GUSTAVO MOURA DE CAVALCANTI MELLO Examinador Interno
TATIANA DAHMER PEREIRA Examinador Externo

Resumo: Este trabalho apresenta os resultados de uma pesquisa de natureza qualitativa acerca do papel desempenhado pelo Supremo Tribunal Federal - STF no atual contexto da democracia brasileira, caracterizado pela ascensão do neofascismo e nos marcos do capital em crise estrutural. Não obstante o fato de que a construção da democracia burguesa é marcada por permanente crise haja vista os limites a ela impostos pelo Capital, e sem desconsiderar que tais limites são extremados em sociedades dependentes como o Brasil em que a autocracia parece ser o modo adequado aos interesses das elites, certo é que há uma crise de hegemonia na democracia brasileira precipitada a partir do golpe parlamentar que impediu o mandato da ex-Presidenta Dilma Rousseff em 2016 e acentuada pela ascensão do neofascismo e chegada ao poder do ex-Presidente Jair Bolsonaro. O neofascismo
constitui-se uma das chaves de compreensão do atual momento vivido pelo Brasil na medida em que explica o “novo” avanço de ideais e práticas políticas autoritárias sem necessariamente implicar no rompimento dos marcos formais da democracia burguesa, mas sendo instrumental ao processo de aprofundamento da democracia blindada. Nesse cenário de escalada
autoritária, identifica-se o papel cada vez mais protagônico do Poder Judiciário, em especial do STF, ao decidir sobre temas de natureza eminentemente política. O objetivo central do estudo circunscreve, pois, a identificar qual o sentido emanado de decisões do STF frente à ascensão do projeto neofascista e às ameaças ao pacto democrático de 1988 a fim de compreender o papel do STF no processo de blindagem do Estado brasileiro na contemporaneidade. Para tanto, ao lado do referencial bibliográfico, construído pela articulação entre as categorias teóricas eleitas (Crise do Capital - Democracia blindada – Neofascismo - Supremocracia) optou-se por analisar, sob o prisma teórico de base marxista, nove Arguições por
Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) propostas ou com participação direta de representantes da sociedade civil nos dois primeiros anos do Governo Bolsonaro e cujo objeto relacionava-se com princípios democráticos capazes de impactar o processo de blindagem do Estado. Como resultado, confirma-se a hipótese inicial do trabalho a partir da conformação da
armadilha da democracia judicializada. Na aparência do fenômeno, o STF tem cumprido seu papel de guardião da Constituição e combatido o avanço do neofascismo ao manter as regras do funcionamento da democracia. Na essência, no entanto, esse processo de transferência do debate público e das prerrogativas democráticas típicas de outros Poderes da República ao STF
pode gerar, a médio e longo prazo, maior corrosão da estrutura democrática. A armadilha em judicializar as grandes questões relativas à Democracia se mostra como uma estratégia típica do “canto da sereia” das classes dominantes a fim de dar aparência de pleno funcionamento das instituições do Estado Democrático de Direito, ao passo que, essencialmente, busca transferir cada vez mais o deslinde dos decisivos conflitos do seio da sociedade civil para o ambiente controlado do judiciário que, estruturalmente conformado a funcionar sem interferência popular, fará prevalecer, ao fim, interesses particulares como interesses gerais em evidente reforço ao processo de blindagem democrática.

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