Representações sociais da saúde e políticas de saúde voltadas a populações indígenas: uma análise da relação entre o sistema de saúde Guarani e a biomedicina

Nome: MARLON NEVES BERTOLANI
Tipo: Dissertação de mestrado acadêmico
Data de publicação: 25/09/2008

Banca:

Nomeordem decrescente Papel
CELESTE CICCARONE Coorientador
IZILDO CORRÊA LEITE Orientador
MARIA LUCIA TEIXEIRA GARCIA Examinador Interno
MARIA LUIZA GARNELO PEREIRA Examinador Externo

Resumo: O movimento indígena, a partir da década de 80 do século passado, inscreveu definitivamente na agenda nacional o direito a um atendimento específico, capaz de concatenar a melhoria na saúde com o respeito à diversidade cultural. Alicerçado na Teoria das Representações Sociais, este estudo tem por objetivo principal identificar e analisar as relações entre dois diferentes sistemas de saúde — a biomedicina e o sistema de saúde indígena —, no contexto das ações direcionadas aos Guarani aldeados no município de Aracruz (ES). Busca compreender como as representações sociais que os indígenas e profissionais de saúde constroem acerca de diversos aspectos dessa questão, relativos a si mesmos e aos outros, num cenário marcado por relações interétnicas, impactam ações desenvolvidas em tal área. A complexidade de implementação da referida proposição, aliada à intenção de compreender as representações dos atores em suas conexões com a vida cotidiana, demandou uma abordagem envolvendo diferentes métodos de coleta e análise de dados, quais sejam: pesquisa documental, observação participante, entrevistas na modalidade semi-estruturada e análise de conteúdo. Os resultados apontaram para a existência de relações de poder e disputas pela hegemonia entre os sujeitos ligados aos sistemas de saúde ora analisados. As representações da saúde e da biomedicina expressas pelos Guarani encontram-se em sintonia com as demandas do grupo no campo da saúde e orientam suas reivindicações, dentre as quais assume destaque aquela pelo direito à diferença. Destarte, os especialistas e lideranças indígenas mobilizam o capital simbólico de que dispõem em estratégias para preservar a hegemonia do sistema de saúde Guarani no interior do próprio grupo, galgando maior controle da agência ocidental, bem como mais espaço na relação com a biomedicina. Por sua vez, nas representações expressas pelos profissionais de saúde, o sistema indígena de saúde aparece como subalterno e portador de eficácia mais simbólica do que propriamente empírica. Essa postura é corroborada pelas ações da Fundação Nacional de Saúde, que ignoram as demandas do grupo. Ademais, as representações existentes entre os profissionais de saúde acerca da cultura do grupo e do comportamento dos indígenas em assuntos relacionados à saúde e/ou aos serviços a eles prestados revelaram a perpetuação de uma postura quinhentista, manifesta na sociedade envolvente e calcada na compreensão do indígena pelo paradigma da falta. Perde-se, assim, a possibilidade de compreendê-lo em sua positividade concreta, ou como o outro é, realmente. Constata-se, portanto, no tocante aos Guarani enfocados neste estudo, que o reconhecimento da eficácia da medicina indígena e do direito desses povos à sua cultura, embora ratificado de um ponto de vista formal pelo Estado brasileiro, mantém-se, na prática, como parte de um enorme alfabeto de letras mortas.

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